"Vitória histórica" ou "resultado fraudulento"? Nicolás Maduro reeleito na Venezuela

por Joana Raposo Santos - RTP
O resultado representou um duro golpe para a oposição venezuelana. Foto: Toya Sarno Jordan - Reuters

Nicolás Maduro foi esta segunda-feira declarado vencedor das eleições presidenciais venezuelanas pela autoridade eleitoral controlada pelo Governo. O resultado, contestado internacionalmente, derrubou as esperanças da oposição de colocar fim a 25 anos de regime socialista. Se, por um lado, várias nações questionam a legitimidade da vitória, por outro os apoiantes do presidente reeleito falam num momento histórico.

"Eu sou Nicolás Maduro Moros, o presidente reeleito da República Bolivariana da Venezuela. Irei defender a nossa democracia, a nossa lei e o nosso povo", proclamou Maduro ao dirigir-se aos seus apoiantes em Caracas.

Maduro dedicou a vitória ao seu antecessor Hugo Chávez, falecido em 2013 e também protagonista de um regime autoritário. "Viva Chávez. Chávez está vivo!" gritou o presidente reeleito.

As declarações surgiram no final de um atraso de seis horas na divulgação dos resultados das eleições de domingo, o que provocou uma onda de preocupação por parte dos governos sul-americanos.

Por fim, o conselho eleitoral nacional declarou que Maduro tinha vencido com 51,21 por cento dos votos, contra os 44,2 por cento do seu adversário, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia.
Observadores independentes vieram já descrever estas eleições como as mais arbitrárias dos últimos anos.
De acordo com a autoridade eleitoral, com cerca de 80 por cento dos votos contados, Maduro tinha garantido mais de cinco milhões de votos, em comparação com os 4,4 milhões de González Urrutia.

O resultado representou um duro golpe para a oposição venezuelana que, apesar de fraturada, se tinha unido em torno da candidatura de González, na esperança de ajudar a tirar o país de um dos piores colapsos económicos da história moderna.

"Ganhámos em todos os Estados e toda a gente sabe isso", assegurou a líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, que tinha apoiado a campanha de González depois de ter sido proibida de concorrer.

"Não os derrotámos apenas política e moralmente, derrotámo-los com votos", disse Machado aos jornalistas, afirmando que González venceu com 70 por cento dos votos e devia ser considerado o presidente eleito do país.
Resultados “difíceis de acreditar”
O resultado eleitoral foi prontamente celebrado pelos aliados de Nicolás Maduro, incluindo o líder cubano Miguel Díaz-Canel Bermúdez, que saudou uma "vitória histórica" e um triunfo da "dignidade e coragem do povo venezuelano".

O líder da esquerda boliviana, Luís Arce, também comemorou o resultado das eleições realizadas naquele que seria o 70.º aniversário de Chávez. "Que ótima maneira de lembrar o Comandante Hugo Chávez", escreveu na rede social X.

Pequim felicitou a Venezuela "pelo sucesso das suas eleições presidenciais" e felicitou o presidente Maduro. "A China está disposta a enriquecer a parceria estratégica e a fazer com que os povos dos dois países beneficiem desta", declarou o porta-voz da diplomacia chinesa Lin Jian.

As reações negativas foram, porém, mais vocais do que as positivas, com várias nações a considerar que as eleições foram fraudulentas.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou que o Governo dos Estados Unidos tem "sérias preocupações de que o resultado anunciado não reflita a vontade ou os votos do povo venezuelano".

"É fundamental que todos os votos sejam contados de forma justa e transparente, que os funcionários eleitorais partilhem imediatamente a informação com a oposição e os observadores independentes e que as autoridades eleitorais publiquem o apuramento detalhado dos votos. A comunidade internacional está a acompanhar de perto esta situação e responderá em conformidade", acrescentou.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, apelou à "total transparência do processo eleitoral" na Venezuela.

"Os venezuelanos votaram sobre o futuro do país de forma pacífica e em grande número. A vontade deve ser respeitada. É essencial garantir a total transparência do processo eleitoral, incluindo a contagem pormenorizada dos votos e o acesso [aos documentos] das assembleias de voto", afirmou Borrell numa mensagem publicada nas redes sociais. Leopoldo López, opositor venezuelano exilado em Espanha, declarou que se verificou "uma fraude insustentável" nas eleições presidenciais na Venezuela. 

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, José Manuel Albares, rejeitou por sua vez fazer comentários sobre os resultados das presidenciais até que sejam publicados os apuramentos de todas as assembleias de voto.

"A chave é a publicação dos dados mesa por mesa, para que possam ser verificados", defendeu, acrescentando que Madrid não tem um candidato favorito e que "só quer o bem-estar e a democracia para o povo venezuelano triunfem".

Já o presidente do Chile, Gabriel Boric, avisou que "o regime de Maduro tem de compreender que os resultados que publicou são difíceis de acreditar” e que “o Chile não reconhecerá qualquer resultado que não seja verificado".

O Governo peruano também rejeitou o resultado. "O Peru não aceitará a violação da vontade popular do povo venezuelano", escreveu no X o ministro dos Negócios Estrangeiros desse país, Javier González-Olaechea.

Na Costa Rica, o Executivo disse rejeitar categoricamente o que considera um "resultado fraudulento", enquanto o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, disse que a contagem dos votos "claramente tem falhas".

c/ agências
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